terça-feira, 26 de abril de 2011

Genuinidade

Sempre me lembro de ouvir dizer mal dos espanhóis. Desde os eternizados ventos e casamentos e passando por tudo o resto, os espanhóis eram a pior escumalha à face da terra e não haveria ninguém pior (embora, para algumas pessoas, todos os emigras, franciús, alemães, imperialistas americanos, pretos e porcos e outros que tais - talvez todos os outros - não lhes ficassem atrás e estaríamos muito melhor se uma praga divina qualquer os limpasse de vez do planeta - já disse que seriam todos os outros?).

O que me vai chocando nisto nem é tanto a radicalidade desse tipo de afirmação, como se pudéssemos dividir sempre o mundo em duas categorias (pretos e brancos, nós e espanhóis-e-todos-os-outros-deviam-morrer, inteligentes e todos-os-outros-deviam-morrer, bonitos e todos-os-outros-deviam-morrer (ou ao contrário, nunca sei bem), qualquer-coisa e todos-os-outros-deviam-morrer).

Chateia-me que a quantidade de vezes que se afirma qualquer coisa desse tipo e o grau de barbaridade de afirmção seja proporcional ao grau de desconhecimento do assunto em causa. Ou à estreiteza das próprias vistas.

Para mim os espanhóis são como todos os outros: há uns bons e outros nem por isso, e suspeito que, nisso, sejam como todos os outros (menos como todos-os-outros-que-deviam-morrer...)

Têm, no entanto, uma característica que, comparativamente, os distingue da maioria de nós, portugueses. Riem e choram porque têm vontade. Abraçam-se efusivamente porque gostam. Discutem furiosamente porque discordam. São mais transparentes, menos comedidos, menos calculistas nas relações.

São mais genuínos. E, se não fosse por mais nada, isso bastava para me fazer gostar deles...

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